domingo, 29 de março de 2009

Heteródino

Heteródino é um princípio em eletrônica que torna possível somar ou subtrair um sinal gerado de um outro qualquer, criando um terceiro de parâmetros mais convenientes, sem que se perca a informação carregada pelo sinal original.

Em certos desenhos percebo uma relação semelhante, em especial naqueles feitos de observação. Eles são um produto indissociável entre a percepção do objeto e o ato de desenhar. Aprofundar-se numa determinada temática é uma oportunidade de vivenciar o desenho em um duplo aspecto. Ao se almejar qualidades externas, torna-se evidente a abstração que se deve fazer para articular um meio qualquer, de potencializar suas capacidades e reconhecer suas limitações, de modo a atingir um resultado consoante com o observado.

As possibilidades de qualquer meio tendem a ser mais limitadas que da existência das coisas. Mas retratá-las não é necessariamente lançar-se num objetivo frustrante, de estar-se sempre aquém delas. Ou, por outro lado, não mais frustante que nossa incapacidade de apreendermos o objeto totalmente, sendo nossas próprias percepções parciais. Torna-se justamente isso: a constituição de nosso pensamento, das ligações que fazemos de diversas experiências, daquelas que procuramos, como procedemos para materializá-lo. O desenho está lá, equilibrado entre as forças do nosso entendimento e os estímulos do objeto.

Logo, os objetos não são mero pretexto. Suas peculiaridades irão fomentar estruturas cognitivas e de desenho diferentes, pois suas atuações dificilmente se dariam da mesma maneira. Não apenas requisitam ou estimulam formas distintas, como sua familiaridade nos torna capazes de lidar com nuances antes não percebidas, incrementando a complexidade do repertório sobre o próprio tema e influenciando na percepção de muitos outros.